19 de jun. de 2012

FINANÇAS GLOBAIS -1: Ondas de Evolução X Internacionalização









Ondas de Evolução X
Etapas de Internacionalização
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     Em 1960, JK inaugura Brasília;
mas, uma dívida externa de US$ 1,66 bilhão,
e uma inflação anual de 30,6%, serão
deixadas por seu governo.
     No final deste artigo, veja o filmete
sobre a inauguração de Brasília.





     Em 1964, uma dívida externa de
US$ 2,62 bilhões, é contabilizada pelo
Regime Militar brasileiro, mesmo sem a
construção de qualquer nova Capital.



     Em 1982, o Banco Mundial informa
o total da dívida acumulada dos países
em desenvolvimento: US$ 702 bilhões.
O Brasil contribuiu com um
endividamento externo bruto de
US$ 83,21 bilhões correntes.



     Em 1981, a armadilha que usa como isca o petróleo, o crédito e o dólar, fecha-se decisivamente sobre o mundo inteiro, arruinando a Economia produtiva de vez. Trata-se da absoluta submissão à Ditadura das Finanças.
     No primeiro ano da década de 80, a inflação anual brasileira chega aos 95,2%.
     Conviver com a mais espetacular das dívidas externas da Idade Contemporânea, enquanto acumulando déficit crescente de comércio estrutural permanente a cada ano, tem sido a opção dos EUA, desde 1982.
     Em 1983, a dívida externa brasileira acabou sendo inexplicavelmente elevada para o patamar de explosivos US$ 91,64 bilhões.
     Dois anos mais tarde (1985), o mundo começa a mudar radicalmente.
     Vale lembrar que, sessenta e seis anos, antes de se iniciar a Revolução Industrial, o espírito pragmático dos ingleses gera a fundação do Banco da Inglaterra e a criação da Dívida Nacional.
     Com a invenção da Dívida Pública, em 1694, os governos passam a se prover de recursos financeiros através da simples emissão de títulos, negociados e subscritos livremente por quem dispõe de poupanças. Líderes nacionais e governantes, logo descobrem que com este novo modelo de finanças, pode-se enriquecer sem guerrear. Entretanto, eles arrastam atrás de si os homens mais poderosos e os mais espertos aventureiros, que logo aprendem a fabricar as crises financeiras que irão resultar em assustadores escândalos especulativos.

Lulinha, paz e amor

     Na eleição de outubro de 2002, os eleitores decidem conduzir Luís Inácio Lula da Silva ao posto de presidente da República, confirmando as pesquisas e marcando decisivamente uma nova postura na história política brasileira.
     Depois de se deixar embalar na esperança, a quarta maior democracia do mundo, no meio de uma crise financeira sem precedentes na sua história recente, decide renovar suas forças, e volta a acreditar que será enfim possível fazer prevalecer a Economia de produção real, em detrimento da economia de papel.
     Não é à toa que, para tanto, escolhe para dirigir seu destino o ex-torneiro mecânico Lula, de 57 anos, cuja carreira sindicalista e política está marcada pela crítica implacável às elites e pela vigilância contra a corrupção.
     O quadrante ideológico de centro-esquerda é a tática eleitoral que deu certo.

A única saída é investir na produção, parando com a especulação”. (Lula)

     Carregando um estilo político de confrontação aos organismos e instituições internacionais, o adversário eleitoral José Serra arrecada uma verba de campanha bem menor do que a de Lula, porque é certamente avaliado distante do foco da mídia e dos eleitores, como sendo o verdadeiro opositor à política econômica de Fernando Henrique Cardoso.
     Com estranha facilidade, Lulinha vence com sua temática de paz e amor, com direito à festança popular; mas, nos traz à lembrança a forma também enigmática que deu fim, em 1985, ao Regime Militar de 64. E não é por acaso que a dívida pública sempre está de corpo presente.

João Figueiredo
     Afinal, naquele ano de 1985, o poder invisível fez acontecer quase tudo: Ronald Reagan é reinvestido nos EUA; o papa percorre a América Latina; Mikhail Gorbachev é eleito o homem forte da URSS; os grandes ditadores, apesar de coincidentemente desaparecidos, não são substituídos (Espanha, Portugal, Iugoslávia, China, etc.); e, além do Brasil, os militares argentinos e gregos, mesmo sem contar com um João Figueiredo, também entregam o poder.
     O expansionismo soviético é contido pela primeira vez, e justo no Afeganistão.



     Acontece o imprevisível encontro de
Reagan (EUA) e Gorbachev (URSS),
em Genebra. 
A Guerra Fria
chega ao seu final!
E para fechar, o dólar alcança seus
níveis mais altos.
 

O negócio agora é aplicar e ter lucro financeiro

     No ano seguinte, a lógica de 1985 fica bem mais clara quando, no Norte desenvolvido, as grandes empresas passam a informar que haviam deixado de priorizar o “lucro produtivo”. Os novos lucros, agora muito mais estonteantes, não resultam mais de trabalho produtivo, que rendem de 2% a 4% em média, mas, fundamentalmente, de investimentos financeiros (aplicações prioritariamente no “mercado da dívida”, mesmo sabidamente impagável), que estavam rendendo entre 7% e 10%, no mínimo.
     O mundo mudou! Clique no “enter”, e pronto: o lucro está assegurado! Inventaram que as empresas não precisam mais trabalhar e produzir para enriquecer. Para não ir à falência, elas precisam tão-somente salvar um punhado de funcionários para justificar sua existência e os lucros.
     Não é por acaso que a dívida mundial estava de corpo presente; portanto, para entender os dias de hoje, só nos resta examinar os enigmas ou as inacreditáveis coincidências das três últimas décadas do século XX.

Terray, Malan e Palocci

     No Brasil do ex-ministro Pedro Malan, que vivia repetindo que “governo não admite perda de arrecadação”, o ideário propagado pelo ministro da fazenda do governo Lula, Antonio Palocci (Filho), também nos faz lembrar o eclesiástico e político francês Joseph Marie Terray (1715-1778).
     Terray é da época derradeira de Luís XV na França, quando também preponderava a delicada questão financeira, motivo de inquietação e descontentamento social. Novamente em falência, repetindo o reinado de Luís XIV, é como se encontrava o Estado absolutista francês que vinha sendo implementado desde 1560.
     Terray, a maior cabeça do Parlamento, foi então colocado à frente das finanças francesas. Gerou-se uma nova e enorme expectativa; mas, não acontecem milagres na Economia. O plano se resumiu em tentar equilibrar a despesa com a receita. Terray pensava poder fazer cortes em Versalhes. Naquele tempo, chamavam-se apenas cortes; depois é que se chamaram economias, finanças.
     Não tendo qualquer opção, e nem meios para poder cortar as despesas da Corte, ao padre Terray tão-somente restou reduzir em um décimo as rendas dos títulos reais.
     Até mesmo os franceses mais humildes, que tinham investido suas economias nesses títulos, entraram em desespero, enquanto, na outra ponta, os impostos aumentavam.
     Para completar seu plano, o eclesiástico Terray estabeleceu um novo imposto sobre todas as entradas de mercadorias na França, salvo a manteiga e os ovos. Os pequenos rendeiros e contribuintes logo esbravejaram, furiosos, que estavam sendo espoliados.
     “– Donde diabos querem que eu tire?” – respondia o padre Terray sem demonstrar a mínima hesitação.
     Para crer em milagres na Economia, é preciso ser muito tolo, e não importa que se esteja no século XVI de Luís XV ou no século XXI de Lula. Se o Estado pesa sobre a renda, pesa também sobre a Economia.
    Quanto mais se toma a riqueza da população, mais as empresas produzem caro, tornam-se menos competitivas. Não havendo desenvolvimento, mais o desemprego aumenta tanto o institucional quanto o conjuntural, tanto o estrutural ou tecnológico quanto o circunstancial. E quanto mais cresce o desemprego em geral, mais custa à coletividade e mais aumentam os impostos, taxas e tarifas. Os gastos do Estado perdulário e os juros da dívida, afinal, têm de ser pagos.